Parte II – O Brasil nesse cenário

No contexto do consumo mundial de café, vale ressaltar que o Brasil, maior produtor (com cerca de 60 milhões de sacas de 60kg/ano) e exportador, vende anualmente para o exterior em torno de 60% da sua safra (Observatório do Café – relatório mensal outubro de 2018 (https://bit.ly/2QTsRFv).

Esse mercado fantástico tem crescido sistematicamente e, por várias razões, uma parcela não muito expressiva dessa cadeia de valor, permanece no País. Por exemplo, o relatório “Project Café USA 2019”, do “Allegra World Coffee Portal” (https://www.worldcoffeeportal.com) avalia o mercado de cafés de marca dos Estados Unidos em US$ 45,4 bilhões, com cerca de 36 mil lojas e um crescimento anual de 3,8%. Um número realmente impressionante, para qualquer setor industrial.

Talvez o principal desafio do maior produtor da matéria prima (Brasil) seja agora não só participar desse importante mercado mundial com volume, mas também através de um contínuo crescimento do seu valor agregado nessa cadeia. Acreditamos que existam, pelo menos três abordagens para isso; 1) aumentando o nível de processamento, o que vem ocorrendo de forma sistemática, mas ainda lentamente; 2) agregando valor através de uma melhoria de qualidade; e 3) uma combinação das duas anteriores.

A melhoria de qualidade, que nos parece a forma mais rápida de se agregar valor, tem sido observada por parâmetros cada vez menos subjetivos. Por exemplo, no final dos anos 90, a Associação Americana de Cafés Especiais/SCAA (hoje, Associação de Cafés Especiais/SCA) após fusão com a entidade europeia deu um passo importante nessa direção. Foi criada uma metodologia de avaliação pontuada para cafés.

Um café especial (que consegue atingir um “preço premium” nos mercados nacionais e internacionais) seria aquele que atingisse no mínimo 80 de 100 pontos. Essas metodologias de avaliação são feitas, essencialmente, com base em parâmetros sensoriais e com a matéria prima, ou seja, o café cru. Portanto, quanto maior a pontuação, maior a classificação!

Pelo fato dessa avaliação ser feita a partir do café cru, como se pode imaginar, pode existir uma diferença expressiva na percepção da qualidade de um lote de café que foi avaliado quando cru e quando bebido pelo consumidor final. Dessa forma, nos parece importante que o consumidor de cafés especiais procure avaliar (sem exageros técnicos, mas sabendo que está consumindo algo diferenciado) uma bebida onde o início de seu processo de produção foi cuidadosamente preparado por produtores dedicados, quase que como um trabalho de arte.

Nos últimos anos, tem surgido, no Brasil, muitos cafés de pontuação excepcional, especialmente de cafeicultores conscientes da relação qualidade-preço e, em geral pequenos produtores, não muito conhecidos, mesmo no mercado nacional. Atualmente, temos no País, quase 300 mil cafeicultores, espalhados por cerca de 1900 municípios, totalizando mais de 2 milhões de hectares de área cultivada. Quando iniciamos esse projeto ficamos impressionados com o que vimos. O cuidado e o carinho que muitos desses produtores se dedicam às suas atividades é realmente surpreendente.

Nossa proposta é que demos ênfase em nosso País, a pelo menos uma das formas de adição de valor, que inclusive nos parece a mais rápida no momento, que é a exploração da qualidade superior de muitos cafés do Brasil, ainda não muito conhecidos, mas que certamente teriam um impacto importante em qualquer mercado. Além disso, sabemos  que consumidores cada vez mais exigentes, quando expostos ao nível de qualidade e cuidado que vimos, certamente vão apreciar uma bebida completamente diferente do tradicional café!

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